Murilo Teixeira – Balaio Poético
Perfil Biográfico
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Murilo Teixeira, trovador, haicaísta, sonetista, poeta
do verso livre e das formas fixas,
comendador de elevadas honras, faleceu em Governador Valadares, em abril de
2012, às vésperas de completar 87 anos. Ao longo de sua vida dedicou-se à
poesia, editou livros, como o Eco do Parnaso, integrou antologias, como a do
cinqüentenário de Governador Valadares, editou o Balaio Poético enquanto teve
forças, e divulgou tudo e todos que chegaram ao seu conhecimento. Só para
termos uma idéia, o Balaio Poético foi comentado na Itália, pelo menos em duas
publicações: Il Litorale http://sergiofumich.blogspot.com.br/2008/05/balaio-poetico-folheto-cultural-di.html
e O Convivio - Il Convivium - http://web.tiscalinet.it/tremariel/008/riviste.htm
. Além de escritor, foi militar.
Integrou a Polícia Militar do seu estado até se aposentar, tendo galgado
diversos postos. Homem sempre dedicado à família, como atestam suas filhas
Malba de Melo Teixeira e Mirza de Melo Teixeira, pelo carinho com que se
expressam sobre o pai. Outra característica do Poeta Murilo Teixeira é seu
cavalheirismo ao se dirigir aos confrades, aos quais nunca faltou palavras de
elevação, o que fazia incansavelmente na sua correspondência literária, através
de observações das mais simples até às mais complexas, para estimular o
missivista a manter contato e promover a divulgação de sua publicação. Esta é
uma das razões pelas quais sempre inseri seus haicais e suas trovas nas minhas
publicações, virtuais e impressas. Mas não é segredo para ninguém que Murilo
Teixeira cultivou a amizade nos meios literários a ponto de ser lembrado com
pesar no seu falecimento, como demonstra a nota divulgada no blog do Instituto
Arte Cultura Brasil pelo egrégio Poeta Humberto Del Maestro. Confira http://ongartebrasil.blogspot.com.br/2012/04/poeta-murilo-teixeira-nos-deixou.html
e um poema em sua homenagem, O Agitador, no blog “Na Vinha Do Verso”: http://marcospizano.blogspot.com.br/2013/10/o-agitador.html
. Além destes, temos ainda tantos outros, que seria exaustivo ficarmos fazendo
a lista. Quero encerrar, citando apenas mais um, o Letras Taquarenses Blog, de
minha autoria, onde o divulguei desde nossos primeiros contatos em 2006.
Confira: https://letrastaquarenses.blogspot.com.br/2015/04/letras-taquarenses-ano-ix-n-64-maio.html
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1 - Sonetos
Mãe
Mãe, nasceste com destino traçado,
Trazendo em verdade o dom de dar vida,
Para este mundo tornar povoado
Almejando uma tribo grande e unida.
Pra tanto trouxeste o dom da paciência,
De suportar a dor, quieta, silente,
De sentir o látego da inclemência
E de implantar amor em toda gente.
Tua presença é tudo que se pede,
E participação, que não se mede,
Para ajude a Vida a Natureza.
Mãe, sem Ti a vida não tem sentido.
É que o órfão é um ser aturdido.
Sem Ti o mundo não terá beleza.
Maio 2006
&
Gratidão
Após favores tantos que já me prestastes,
Depois de tanta coisa que por mim fizestes,
Seria minha vida plena de contrastes
Se não reconheceste o tanto que me destes.
De vós eu recebi a vida que hoje tenho
Repleta de alegria, e satisfeito estou;
E para a gradecer-vos nestes versos venho
E os agradecimentos mencionando vou:
Que Deus vos pague, oh! Deus! Deus meu! Que
pleonasmo!...
Mas, sois o Deus também do meu entusiasmo
E só com o Vosso nome sei agradecer.
Se alguma coisa sou Vós mesmo me fizestes;
Se alguma coisa tenho é de Vós que ma destes;
O que me resta então pra vos oferecer?
&
Epiquirema
A aurora que a sangrar vai tingir nas roseiras
Semblantes delicados, suaves perfumes,
É como adolescente, a de faces fagueiras,
Tendo a alma corroída em atrozes ciúmes.
A lua que do alto faz noites inteiras
Tão claras como a luz de poderosos lumes,
Tem segredos de matas de vastas clareiras,
Surpresas das montanhas nos seus altos cumes.
A aurora há de sofrer, senão não sangraria;
A rosa há de ser bela, ou um mimo não seria;
A jovem há de amar, senão não sofreria.
Se não fosse o luar desapareceria
O contorno dos cumes e mata sombria.
Surpresas e segredos são nossa alegria!
&
Aves em bando
O sol no ocaso despedia-se da gente
Numa tristeza natural de todo dia.
Aves em bando se rumando pra o poente
A nós mostravam ter no ar soberania.
Aves em bando, que rumando pra o poente
Deixam cá atrás abandonados tantos ninhos,
Na volta tragam a alegria a toda a gente,
Gente voraz, sem paz, amor, e sem carinhos.
Aves em bando que se rumam ao poente
Nessa carreira quase louca fugidia,
Buscando algures novo abrigo, novos ninhos...
Tragam na volta para toda minha gente
Que desfalece sem um pouco de alegria,
Moldes de paz, moldes de amor, e de carinhos!
*
Incógnita (II)
Se em meio àquele encanto do passado
- que infelizmente agora está perdido! –
Houvesse eu, pois, um dia te encontrado,
Será que mais feliz teria sido?
Porque te amar como eu tenho te amado
Já faz de mim um ser muito atrevido,
Constantemente alegre e reanimado,
E da felicidade possuído.
Olho pra dentro e vejo as almas puras
Nesse nosso sacrário entrelaçadas...
Um sincero carinho, belas juras.
Será que mais feliz?... É questionado,
Seriam nossas vidas abraçadas
Se em meio àquele encanto do passado?!!!
*
Retrato
Postei à minha frente o teu retrato
Pra não perder detalhes do teu rosto.
Ver-te sorrir, na foto, dá-me gosto.
Olhar-te firme aumente e aquece o trato.
Pra não dizeres que sou muito ingrato
Teu retrato em moldura está aposto
A belíssimas rosas, (lindo encosto!)
E o luxo ali exibe seu contrato.
Fitar-te e recordar é o que mais faço.
Tempo feliz vivemos num só laço
Alegres por estarmos ambos juntos.
Unia-nos o amor puro e sincero,
Policiamento mútuo auto severo,
Cumplicidade em todos os assuntos.
*
Campanha
Em séculos atrás a música e poesia,
Que eram arte então, viveram no apogeu.
Infelizmente foi que toda essa euforia
Passou junto co’o tempo e desapareceu!
Progresso, modernismo, empáfia, galhardia...
bastante coisa nova aqui entre nós nasceu
Facilitando tudo, e em franca covardia
Abandonou a história e de arte se esqueceu.
Se tempo ainda há, devemos nós tentar
Na escola aqui e ali ARTE lecionar
Com MÚSICA e POESIA nestes nossos dias!
Um outro Carlos Gomes pode aparecer...
Outro Olavo Bilac poderemos ter...
Quem sabe nos virá outro Gonçalves Dias?!...
*
Último Sorriso
Amada, os olhos fecho e vejo o teu sorriso,
A última, é bem certo, amostra de alegria!...
Partiste, de repente; era mesmo preciso?
Eu nem sequer pensava em tal naquele dia!
Tanto calor, em paz nós dois, tanta harmonia,
Quanto projeto assim brotando de improviso!...
Abrupta surpresa a fazer-se agonia
É qual flecha ferir-me sem menor aviso!
E agora, Filezinho, eu olho ao meu redor
E não te encontro ali feliz ao derredor...
O que me desanima, torna-me indeciso!
Não mais estás comigo, alegre a me sorrir!
Como único consolo, tua falta a sentir:
Amada, os olhos fecho e vejo o teu sorriso!!!
2 – Trovas
Pudesse eu por numa carta
O melhor que a vida traz,
Mandaria em dose farta
Aos amigos meus a paz.
&
Teus olhos... beijá-los quis
Tão logo te conheci.
Se queres ver-me feliz,
De novo apareça aqui!
&
Que será que aconteceu
Com a humanidade, enfim?
Parece que ela esqueceu
Que não é bom ser ruim!
&
De tanto tentar fazer
Mais coisas pro seu conforto,
A paz o homem vai ter
Somente depois de morto!
&
Não sei o que então se passa.
Neste mundo de beleza,
Desgosto o termo “desgraça”,
Não sei falar em “tristeza”.
&
Bom dia, dia. Bom dia.
Por ser feliz, como sou,
Viver, pra mim, é alegria ,
Que a natureza doou.
&
Feliz como eu, só eu.
Não sei como ficar triste.
Parece que o mundo é meu
Co’o que de mais belo existe..
&
A tua abrupta partida
Podes crer, mamãe, doeu!
Se alguém te lembra na vida,
E chora a perda, sou eu.
&
Se em físico não te tenho,
Com pesar, mamãe querida,
Tua lembrança eu mantenho
Todo instante em minha vida.
&
Sorriso é o que ofereço
Par a par com meu calor
E que prova que agradeço
Pela paz do nosso amor.
&
Por isso é que eu sou feliz.
Sei receber o que ganho.
E o meu sorriso condiz
Co’a alegriaem igual tamanho.
&
Tu podes dormir agora.
Me considero curado.
Preocupação mande embora!
Desculpe, e muito obrigado!
&
Se não sabes perdoar,
Como esperar teu perdão?
É tempo de repensar,
De abrandar teu coração!
&
Quando se fala de amor
O elo interno é tão forte
Que a face sente o rubor
E o corpo demonstra o porte.
&
Conte agora, com jeitinho,
Ao ente amado a verdade!
Talvez já amanhã cedinho
Não haja oportunidade.
&
Ao acordar, que beleza,
Ver sol bater na janela!
Parece que a natureza
Me chama de filho dela!
&
Por companhia ganhamos
Pessoas boas e más...
Então, amigos sejamos!
E viveremos em paz.
&
Sim. Louco bem sei que sou.
Loucura mal não me faz.
E o que passou já passou.
Não quero voltar atrás.
&
Eu hoje estive pensando
Na saga do trovador:
É como sonhar te amando,
Viver morrendo de amor.
&
Não dá pra se compreender:
No meio da inteligência
Ao passado o homem volver
Se dedicando à violência.
*
Eu tinha planos pra nós,
Para uma vida feliz,
Mas o meu destino atroz
Realiza-los não quis.
3 - Haicais
Eu acho tão triste
Ver-te soluçar, chorar,
Quando o amor existe!...
&
Ontem, ao te ver,
Notei, sem querer, prazer,
E fiquei feliz!
&
Penso em ti...
Pra melhor sentir,
Fecho os olhos.
&
4 - Versos Livres
Marcas
Ali,
No banco do jardim da praça,
Em hora de lazer
De doce abstração...
Aposentado e só,
Ociosamente vegetando,
As idéias se misturam.
Pela memória se nos vão passando,
Quase num vídeo-teipe,
A infância...
A adolescência...
A juventude...
A puberdade...
A maturidade...
A velhice...
A senilidade.
Que nos marcou, de alegria?
Convívio de amizades?!
Momentos de amor?!
Sorriso de vitória?!
Consolo de desprendimentos?!...
Ah! A face linda
Da mamãe que nos alimentava!
É! A gente foi feliz!!!
5 - Outros Versos
Mamãe...remissão... saudade!!!
Ao recordar, Mamãe, a minha infância,
Meu tempo de alegria de criança,
Sinto vontade forte de chorar,
Porque compreendo hoje a tua ânsia,
Aquela luta, a tua insegurança,
Tua batalha pra os filhos criar.
Eu não sabia, Mãe, eu não sabia
Que para eu ser feliz tu pagarias
Preço tão alto quanto eu vi pagando.
Inda inocente, Mãe, não compreendia
Muitas das vezes quando tu sofrias,
Que te surpreendia, a sós, chorando.
E agora, minha Mãe, que compreendemos,
Que assim sentimos eu e meus irmãos
Tu foste embora, mas não vais voltar!
Ao Senhor Deus, Mamãe, nós te cedemos,
Te agradecendo, erguemos nossas mãos
Rogando ao Pai nos possas perdoar!!!
*
Poeta Adora Mulher
É verdade, e é sabido:
Poeta adora mulher.
Poeta adora mulher
Mas não a uma qualquer
De aproximar atrevido,
Que impor-se ela pensa e quer
Como um poder destemido
Que quer ser obedecido
Sem uma demora sequer.
Poeta adora mulher!
Poeta adora beleza:
E assim, com toda a certeza
Não quer mulher mal vestida
Nem que lhe chegue despida.
Romântico renitente
Quer mulher linda, contente,
Dengosa de corpo e de alma
Para ele a despir,com calma,
Com muita delicadeza.
Poeta adora beleza!
Poeta adora carinho:
Ao trinar do passarinho
Mão diáfana aveludada
A deslizar, serenada,
Como a procurar caminho
Na pele... devagarinho...
Sonho de vida encantada
Pura beleza sagrada!
Bem longe do burburinho
Poeta adora carinho!
Poeta adora mulher:
Poeta adora mulher
Que lhe vem bem arrumada,
Limpa, alegre, perfumada,
Demonstrando que o quer.
O beijo é o primeiro passo
Que o excita, deixa lasso,
E que ir adiante requer.
Poeta adora mulher.
Poeta adora mulher!
Texto e seleção de
Antonio Cabral Filho - Rj
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